George Washington Carver

George Washington Carver

sábado, 26 de março de 2011

Estudar Música: Um Excelente Exercício Para a Mente

Desde a idade média a palavra era mais importante que a melodia. Foi na Grécia antiga que se descobriu a influência da música no corpo humano. Aristóteles falava do verdadeiro valor médico da música e Platão receitava música para a cura das angústias. Ele afirmava "a música é o remédio da alma". Virtudes mágicas da música eram transmitidas aos instrumentos musicais. Sons produziam efeitos terapêuticos.

A música é muito mais que um simples conjunto de sons que compõe uma melodia. Ela penetra nossa pele, provoca arrepios de prazer ou nos faz mergulhar em doces lembranças.

Os efeitos benéficos à saúde física e mental da música foram descobertos mais de 30.000 anos atrás. O reconhecimento de que a música poderia provocar comportamentos e emoções, levou ao uso da música para a prevenção e cura de enfermidades físicas e mentais.

O estudo da estrutura e do funcionamento do cérebro evoluiu muito nos últimos anos. Torna-se cada vez mais possível identificar as partes específicas do cérebro usadas para diferentes aspectos do pensamento e da emoção. Cada região cerebral contribui de forma específica para o funcionamento do sistema funcional como um todo.

Existem regiões no cérebro do ser humano compostas por células especializadas destinadas a memorizar somente sons com determinados ritmos, outras, são destinadas a memorizar diferentes timbres de som, ou então células que têm a função de armazenar somente a linha melódica de uma música e o conjunto desses grupos celulares, compõe a memória sonora.

A área cerebral responsável pelo reconhecimento da música que ouvimos é a região ou córtex temporal do hemisfério direito do cérebro, assim como a execução das melodias e da prosódica musical. Melodia é a sucessão rítmica, ascendente ou descendente de sons, a intervalos diferentes e que encerram o sentido musical. Prosódia é o ajuste das palavras à música e vice-versa, a fim de que a sucessão de sílabas forte e fraca coincida com os tempos fortes e fracos dos compassos. O reconhecimento da música, portanto sua identificação, ou seja, sua percepção, constitui uma função cognitiva.

Também é função do córtex temporal direito executar a música cantando-a. O córtex temporal do hemisfério esquerdo é indispensável para a composição e escrita da música. No hemisfério esquerdo estão os centros da linguagem, que nos possibilitam a compreender a música.

A música e a linguagem têm algo muito em comum, ambas transmitem mensagens por meio de um sistema de signos que possui suas regras gramaticais. Na música também existem algumas regras como uma seqüência de sons e de harmonias que devem se desenrolar. O aprendizado da música ou de um instrumento musical ajuda no desenvolvimento cognitivo, sobretudo nos aspectos semânticos e nos sistemas de memória. A música se configura numa forma de linguagem e pensamento.

Em casos de lesões cerebrais, por traumatismo craniano, acidentes, doenças ou como nos casos de AVC (Acidente Vascular Cerebral) quando a pessoa mostra dificuldade em reconhecer músicas que conhecia antes, assim como cantá-las, a pessoa apresenta uma "amusia". Por outro lado, a pessoa pode ser capaz de recitar a letra da música. Essas lesões celulares podem afetar somente a noção de ritmo da pessoa, perdendo a capacidade de memorizar e acompanhar ritmos, conservando, porém, o entendimento e a lembrança dos outros componentes que formam a música, por exemplo, a letra e a melodia.

Um nível elementar de conhecimento musical todos nós possuímos, devido aos processos de aprendizagem que ocorreram durante nosso desenvolvimento. O ser humano constrói-se e é construído, já em seus primórdios gestacionais, com o ritmo da respiração da mãe e as conversas e canções que o embalam.

Nossa memória sonora está interligada com a memória visual, a memória olfativa, tátil e a gustativa. A memorização da música envolve dois aspectos: o fisiológico e o psicológico. A facilidade de memorização musical difere de pessoa para pessoa.

Entretanto, pesquisas da área de neurociências comprovam que as pessoas, mesmo sem formação musical, são capazes de reconhecer um acorde, uma melodia inacabada ou variações sobre um tema tão bem quanto um músico profissional, o que comprova que a percepção da música é muito parecida, tanto no plano individual como entre diferentes ouvintes. Isso ocorre pelo simples aprendizado implícito.

A extraordinária capacidade do cérebro de interiorizar as estruturas complexas do ambiente de forma passiva, ou seja, a simples escuta (e não a prática) basta para tornar o cérebro "músico".

Estudo sobre a biologia do som realizados no Laboratório de Neuropsicologia da Música e da Cognição na Universidade de Montreal (Canadá), investigou as contribuições da música nas reações do indivíduo e revelou que a música produz, de fato, reações fisiológicas, cuja amplitude depende do conteúdo emocional.

Nas reações emocionais, o sistema nervoso central reage com aceleração dos batimentos cardíacos ou aumento da transpiração. O medo e a alegria suscitam uma forte reação na pele (de transpiração). Outros estudos mostram que a música exerce grande influência sobre o comportamento e ativa áreas cerebrais que participam do processamento das emoções.

Música, benefícios e emoções

Com relação aos efeitos benéficos da música nas emoções, no comportamento e nas funções cognitivas, quando utilizada, melhora o humor, o sono, a motivação, a autoconfiança, diminui a ansiedade, combate a tensão e a fadiga e elimina o estresse. Isso porque a música é capaz de ativar no cérebro os mesmos centros de recompensa que uma comida saborosa, droga ou sexo e reduz as concentrações dos hormônios do stress. No entanto, estilos musicais afetam as pessoas de formas diferentes.

Quanto às funções cognitivas, a música pode auxiliar na manutenção da memória, concentração, facilita a percepção auditiva, a atenção, a repetição, estimula a memória imediata, a memória implícita (semântica e declarativa), o raciocínio abstrato, a imaginação e a criatividade.
Música e envelhecimento

A música sempre acompanhou o envelhecer da humanidade, dando sentido aos movimentos e épocas, refletindo sentimentos. Por sua capacidade de transcender ao tempo, a música ultrapassa não só séculos e décadas, como também permeia as diferentes culturas e gerações inteiras, demonstrando as diferenças e semelhanças entre elas.

Onde quer que haja um povo, uma cultura existirá música. A velhice, como a música, pertence ao tempo. Um tempo que marca o corpo e constrói a memória, seja individual ou coletiva. As músicas de nossas vidas fazem parte dessa construção. Nós fazemos música para nos escutarmos nela.

A Musicoterapia na terceira idade se apresenta como uma terapia auto-expressiva de grande atuação nas funções cognitivas, isto é, para a manutenção das capacidades de memória, percepção, atenção, concentração e linguagem. A música atua como intermediadora na relação terapeuta-cliente, visando à melhoria da qualidade de vida, estimulando as ações físicas, sensório-perceptivas, psicológicas e sociais do indivíduo. Tendo o corpo como primeiro instrumento musical.

A utilização da música e seus elementos (som ritmo, melodia e harmonia) pelo musicoterapeuta em um processo estruturado para facilitar e promover a comunicação, o relacionamento, a aprendizagem, a mobilização, a expressão e a organização (física, emocional, mental, social e cognitiva) para desenvolver potenciais e/ou recuperar funções do indivíduo de forma que a pessoa possa alcançar melhor integração intra e interpessoal, bem-estar e melhor qualidade de vida.

Elisandra Vilella G. Sé

Musica para os futuros atletas

A Música e o Cérebro

Oliver Sacks

De todos os animais, o homem é o único dotado de ritmo, capaz de responder à música com movimentos. É também o único a apresentar um cérebro adaptado para compreender complexas estruturas musicais e ainda se emocionar com elas. Músicos apresentam alterações em regiões cerebrais jamais vistas em outros profissionais. Para o neurologista britânico Oliver Sacks, a musicalidade é tão primordial à espécie quanto a linguagem e entender a relação entre música e cérebro é crucial para a compreensão do homem.

Em seu mais novo livro, “Alucinações musicais” (Editora Companhia das Letras), o especialista relata casos de pessoas que reagem à música de formas incomuns. Há os que simplesmente não conseguem ouvi-la. E há os que a ouvem o tempo todo, mesmo quando nenhuma melodia está tocando.

Há gente que passou a ouvir os sons de forma diferente após ser submetido a uma cirurgia cerebral. E mesmo os que desenvolveram um incomum talento musical. Nesta entrevista, Sacks conta que há um vasto caminho ainda a percorrer para que se possa entender completamente esses fenômenos. Mas uma coisa, diz, é fato: “A música se apossou de muitas partes do cérebro humano.”

O GLOBO (Roberta Jansen): O senhor concorda com Charles Darwin quando ele diz que a música teve um papel importante na evolução? Especificamente na seleção sexual, como um atrativo a mais para o sexo oposto? (ver nota dos editores)

OLIVER SACKS: Como o comportamento e as suscetibilidades não deixam registros fósseis, é difícil saber como nossos ancestrais se comportavam. Mas estou inclinado a pensar que a música surgiu muito cedo na espécie humana, tão cedo quanto a linguagem. Linguagem e música são fontes de comunicação primordiais.

GLOBO: O senhor discorda, portanto, de Steven Pinker e de outros especialistas que sustentam que a música é um subproduto do aparato sensorial, prazerosa mas dispensável?

SACKS: Sim, discordo de Pinker. Não vejo a música como algo acidental e trivial, como um subproduto da linguagem.A música está presente em todas as culturas e apresenta, nos seres humanos, aspectos únicos que não têm paralelo na linguagem. Falo do ritmo, do fato de respondermos à música com movimentos. Nenhum outro animal faz isso. É preciso ver o ritmo como algo primordial na evolução humana.Porque todos os seres humanos respondem a ele. A música une as pessoas. E há conexões específicas no cérebro para isso.

GLOBO: Unir as pessoas poderia ser uma vantagem evolutiva?

SACKS: Não posso dizer que a musicalidade humana se desenvolveu para unir as pessoas.Mas algo surgiu, se mostrou vantajoso e houve a seleção dessa característica. É claro que a musicalidade é uma vantagem evolutiva. Nenhum outro animal dança com ritmo, mas qualquer criança o faz. Isso pode ter sido um fenômeno quando surgiu, todos esses pequenos seres dançando.

GLOBO: De que forma isso é marcado no cérebro humano?

SACKS: Muitas partes do cérebro se desenvolvem com a percepção, o aprendizado e a imaginação do ritmo. De novo, nenhum outro animal tem a capacidade de ouvir e analisar sons complexos, com tons, semitons, ritmos, palavras.Essa habilidade é especificamente humana. Mesmo pessoas que sofrem de mal de Alzheimer ou tiveram um derrame respondem à música.Várias estruturas do cérebro se relacionam a isso.

GLOBO: De que forma?

SACKS: A música se apossou de muitas partes do cérebro humano. É possível ver como o cérebro se modifica em resposta à música. Estudos com imagens do cérebro já comprovaram a ampliação de determinadas regiões no cérebro de músicos. Vendo imagens de cérebros, não dá para dizer quem é matemático ou escritor. Mas dá para dizer facilmente quem é músico quando essas estruturas ampliadas aparecem.

GLOBO: Há alguma parte do cérebro especialmente voltada para música?

SACKS: Não há uma só parte do cérebro. A música está em todo mundo, por todo o cérebro, envolve várias partes desse órgão e não necessariamente as mesmas. Isso é que é o mais incrível.

GLOBO: Mas há também os que não respondem de forma alguma à música, não é?

SACKS: Sim, há algumas pessoas que não percebem musica e ficam muito impressionados com os relatos. Há outros que não ouvem determinados tons ou semitons. Essas amusias ocorrem em razão de danos no cérebro. Parte da rede que está faltando.

GLOBO: E as alucinações musicais? Até que ponto elas poderiam ser interpretadas como um problema psicológico?

SACKS: Quando uma pessoa tem alucinação musical (ouve música que ninguém mais está ouvindo), a primeira coisa que pensa é que ficou louco, que está ouvindo coisas. Mas é um processo completamente diferente de ouvir vozes como os esquizofrênicos. Eles recebem ordens, é bem diferente e as pessoas enfatizam isso. Alucinações musicais são bem comuns, são como velhas memórias que tocam na mente. Não é uma doença mental.

GLOBO: Por que a música muitas vezes provoca uma reação emocional? Como o cérebro é capaz de diferenciar uma melodia triste de uma alegre?

SACKS: Um dos maiores poderes da música é controlar emoção, desenvolver, provocar respostas emocionais. Anatomicamente, podemos dizer que algumas regiões do cérebro afetadas pela música estão perto daquelas ligadas às emoções, envolvidas nas percepções dos cheiros que despertam memórias. Mas ainda não está claro como essas respostas emocionais ocorrem. Não se sabe ainda o quanto depende da cultura.

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